Biografia do autor

Nascido em 87, Nuno Dias Madureira é um idiota carismático. Com um leque variado de interesses, este jovem desenha impressionantes e meticulosos retratos, capazes de competir com as obras de uma criança de oito anos. Desde cedo se interessou pela escrita, plagiando com mestria vários trabalhos na escola. Actividade que viria a aperfeiçoar nos tempos de faculdade. Actualmente frequenta o mestrado Novos Media e Práticas Web na UNL, pelo que já recorre aos seus profundos conhecimentos de HTML e CSS sendo, nomeadamente, capaz de centrar uma imagem recorrendo ao código. No entanto, é no cinema que Nuno deposita as suas esperanças. Lynch, Godard, Jarmusch e Tarkovsky são algumas das referências do aspirante a realizador que nunca pegou numa câmara de filmar, e provavelmente nunca o fará

9.2.09

Ignorance


Strange to know nothing, never to be sure
Of what is true or right or real,
But forced to qualify or so I feel,
Or Well, it does seem so:
Someone must know.

Strange to be ignorant of the way things work:
Their skill at finding what they need,
Their sense of shape, and punctual spread of seed,
And willingness to change;
Yes, it is strange,

Even to wear such knowledge - for our flesh
Surrounds us with its own decisions -
And yet spend all our life on imprecisions,
That when we start to die
Have no idea why.

- Philip Larkin

7.2.09

14 de Fevereiro

Eu adoro o dia dos namorados. Deliro com os peluches com corações a dizer "I Love You", os chocolates também em forma de coração, enfim... todas aquelas prendinhas bonitinhas e super originais. Tudo é tão vermelho e enjoativo que a cada 14 de Fevereiro eu acredito que até o pobre do São Valentim dá voltas na campa.

Os casais de mão dada a passear aos milhares, apinhados e esmagados nos restaurantes, nos cinemas, nos miradouros. Não há dia em que o amor seja mais industrializado. Tudo é uniforme, igual e ornamentado de um tédio muito, muito monocromático. É incrível como existe um dia dos namorados. Mas mais incrível ainda, é o facto de existir tanta gente que celebra este dia tão idiota.

O dia de são valentim (porca miseria! que piroso! quase que me custa escrever estas palavras no meu querido blog (não, custa mesmo! (e como é fixe fazer parêntesis dentro de parêntesis (já nem sei o que estava a dizer antes)))) está mesmo ao nível dos casais que celebram um mês de namoro. E dois meses. E três meses e meio! Jesus! Mas porque não celebramos antes um mês e 18 dias? Não tinha muito mais piada? Porque é que celebramos quando é estabelecido e não quando nos apetece?

Se repararem bem, quase que temos um calendário da relação. Se eu tiver com uma grand'azia no dia em que fizer um ano com a minha mais que tudo (MAE DE DEUS VOU APAGAR ISTO!), estou basicamente na merda. Vou ter que ir dar beijinhos para um sitio certamente especial (atenção que hoje estou-me mesmo a esmerar), quando o que realmente me apetecia era estar em casa a beber cházinho e a ver um filme dos anos 60 (possivelmente um 8½ ou mesmo o 2001).

Por isso pá eu não consigo perceber estas tendências. A nossa necessidade de catalogar, encaixotar, agendar e programar a coisa que devia ser, pelo contrário, a mais espontânea e original nas nossas vidas. L'amour. Mas isto sou eu a falar. Que nunca devo ter tido um relacionamento normal em toda a minha vida. Eu no fundo invejo todos aqueles casais pacatos e tradicionais, que provavelmente são bem mais felizes que eu.

Por isso força nisso namoradinhos de Portugal! Enfrasquem-se em chocolates, rosas e peluches, marquem o restaurante mais chique e, já agora, ajudem lá este país a sair da crise. Sem duvida alguma que depois depois deste dia único e especial, a vossa relação nunca mais vai ser a mesma!

5.2.09

American Graffiti



Bob Falfa: Hey, hey, hey, baby. What do you say?
Laurie Henderson: Don't say anything and we'll get along just fine.

Desenhos e preconceitos


Ontem fui até aos armazéns do chiado para desenhar um bocado. Sentei-me e continuei o meu desenho. Passado um bocado (estava eu desligado do mundo graças aos meus ricos fones) reparo que estava uma pessoa mesmo ao meu lado, de pé a olhar para as minhas pinturas. Era um rapaz preto e alto, com roupas sujas e largas, e de capucho na cabeça. De imediato penso para mim; pronto, lá vem este gajo chatear-me. Tiro os fones do ouvido e viro-me para ele.

- “Posso ver?”
- “Podes.”
- “Gosto da tua cena”
- “Ah.. é um bocado estranho mas é a falta de jeito…”
- “Ah népia man. Tem personalidade. Nunca tenhas vergonha da tua própria arte. Queres ver a minha arte?”

Nisto ele tira o capucho e reparo que tem um olho completamente fechado e inchado, e um dente a menos. Ele pergunta se dá para se sentar e eu digo que sim, sem dar muita confiança e mantendo o meu cepticismo. De seguida pede-me umas moedas e eu dou-lhe um euro. Já estava à espera, pensei eu. Questionei-me ainda se ele me iria tentar roubar alguma coisa. Ele agradece e deixa o euro em cima da mesa. Achei estranho mas continuei a desenhar.

Pouco depois (e para minha surpresa) o rapaz pergunta se pode, também ele, fazer um desenho. Eu dou-lhe uma folha branca e um lápis.

Ficámos os dois ali vinte minutos a desenhar em silêncio. Ele acaba, assina e escreve qualquer coisa (que não consegui perceber), dá-me o desenho e diz:

“Toma. É para ti. Gostas?”

Tinha feito um graffiti em que se conseguia ler Tang (de Wu Tang Clan) pintado a preto e com contornos vermelhos.

Eu sorri e disse que gostava. Ele levanta-se, pega no euro e pergunta, “Posso?”. Acenei que sim com a cabeça e, antes de se ir embora, o intrigante rapaz diz: “Agora sim, acho que posso levar o teu euro. Obrigado.”

E foi-se embora.

Eu continuei a desenhar. Pouco depois parei e pus-me a pensar. Mas que atitude. O gajo que estava num estado lastimável, pede-me umas moedas e em vez de se ir embora, como seria normal, sentou-se a fazer um desenho para me oferecer. E eu não consegui ser minimamente simpático ou receptível.

Senti-me um atrasado mental. Que merda de preconceitos são estes? Em que julgamos de tal maneira as pessoas pela sua aparência que não lhes damos a mínima chance à partida? Nem a chance da dúvida? Ele teve uma atitude humilde e mostrou dignidade, e no entanto, eu não descansei até que ele se tivesse ido embora. Saí revoltado dos armazéns. Guardei o desenho dele no quarto e pensei que, se o visse outra vez, convidá-lo-ia para se sentar a desenhar mais um bocado.