Biografia do autor

Nascido em 87, Nuno Dias Madureira é um idiota carismático. Com um leque variado de interesses, este jovem desenha impressionantes e meticulosos retratos, capazes de competir com as obras de uma criança de oito anos. Desde cedo se interessou pela escrita, plagiando com mestria vários trabalhos na escola. Actividade que viria a aperfeiçoar nos tempos de faculdade. Actualmente frequenta o mestrado Novos Media e Práticas Web na UNL, pelo que já recorre aos seus profundos conhecimentos de HTML e CSS sendo, nomeadamente, capaz de centrar uma imagem recorrendo ao código. No entanto, é no cinema que Nuno deposita as suas esperanças. Lynch, Godard, Jarmusch e Tarkovsky são algumas das referências do aspirante a realizador que nunca pegou numa câmara de filmar, e provavelmente nunca o fará

10.12.09

Grey

How sad it is to grow old
Watching the grey skies unfold
Over your grey head, cold.
Joyful colors haunt her night,
Shivers from the old days, bright.
In disguise a man will come and say
Today is the day
When everything turns black, grey.
And the lady she'll say
Take what you may.
For what's left of this body of stone,
Old habits and bone.

9.12.09

As coisas

Enlouquecera. As coisas falavam-lhe; ganharam voz, as coisas: Guitarra-fatal, Caneta-invejosa, Flor-poeta, Faca-delicada, Porta-janela, Cinzeiro-suicida. A sua casa tinha vida. Estava sozinho desde há muito – escondido entre pensamentos e palavras – entregue à literatura que lhe salvara a vida. De um dia para o outro tudo mudou: A sua casa estava viva.

Tudo começou numa manhã de Fevereiro, ao desligar o despertador (ou Despertador-boémio como se chama agora), o pequeno dispositivo responde:

- Outra vez às sete da manhã? Mas ninguém pode dormir nesta casa?

Incrédulo, o velho olhou fixamente o objecto que acabava de lhe dirigir a palavra. Esfregou os olhos julgando-se ainda embrenhado num qualquer sonho, vestiu umas calças e foi até ao café da esquina comprar pão fresco. Ainda estava quente, abriu a segunda gaveta ao lado do fogão e tirou a faca do pão (Faca-delicada como é conhecida hoje em dia). Ao cortar o pão pela metade, uma voz gentil suspira:

- Que delicia, tão quente que até fico arrepiada.

O velho larga a faca e permanece imóvel. Estou a imaginar coisas, pensou enquanto a mão tremia.

- Mas que é isto?! – Grita para a faca, como se perguntasse a si mesmo.

Nada. Novamente o silêncio punha em causa as nítidas palavras que acabara de ouvir. Pegou no pão e foi-se sentar na cadeira da sala.

- Entre o calor do verão e o frio do inverno, sê o vento.

Virou subitamente a cabeça para o vaso de onde vinha aquela frase, parando de mastigar para ouvir.

- De quantas palavras vou ainda precisar para compreender a sua inutilidade?

Levantou-se em sobressalto, agarrou o Vaso-poeta com as duas mãos e agitou-o violentamente.

- Fala! Não falas agora? FALA!

Nada. Foi à cozinha buscar o Copo-autoritário e colocou-o ao lado do vaso. Os objectos não lhe respondiam nem falavam entre si. Necessitava de clarificar as ideias e decidiu aventurar-se pela rua. Caminhava receoso, olhando em todas as direcções na expectativa que alguma pedra da calçada, banco ou maço de cigarros pisado no chão desse o ar de sua graça. Durante três horas vagueou pelas ruas e nenhuma criatura, pessoa ou objecto, lhe dirigiu a palavra.

Antes de colocar a chave na fechadura suspirou. Imaginara uma revolução na sua ausência: Facas e garfos batalhavam juntos contra o detergente que se aliara ao lava-loiças; cadeiras e sofás gritavam a uma só voz pela equidade e contra a hegemonia das almofadas; papeis e cadernos incendiavam estojos vitimando canetas e marcadores; livros fugiam da estante que os aprisionava, a impressora apaixonava-se perdidamente pela máquina de escrever avariada. Contudo ao entrar em casa reparou que tudo estava na mesma; nem um murmúrio se ouvia. Afundou-se no sofá; adormeceu.

Um mês passara. Não enlouquecera; as coisas falavam-lhe; ganharam voz, as coisas. Garfo-assassino, Espelho-adolescente, Gaveta-revolucionária, Tesoura-artista, Pincel-hipocondriaco, Gravata-surrealista, Cadeira-mimada, Prato-depressão, Pente-sedutor. A sua casa tinha vida.

Durante trinta e um dias aprendeu a lidar com as coisas, habituara-se à sua companhia – com os seus pensamentos e monólogos - apenas falavam quando queriam, nunca respondiam ou interagiam, eram espontâneos e egocêntricos durante trinta e um dias. Costumava dizer para si que eram todos como gatos mimados, só vinham ter com o dono quando queriam. No fundo era como se o velho não existisse. Nesse mês fez várias experiências e chegou a várias conclusões:

1) As coisas têm uma personalidade própria. Cada uma delas parece ter opiniões e preocupações diferentes. Começou a dar nomes aos objectos consoante as suas frases e perspectivas. (o seu favorito é o Pente-sedutor)

2) As coisas só falavam dentro de casa. Na experiencia numero sete levou o Livro-anoréxico, o Telemóvel-assassino e o Cachecol-arrogante consigo e uma vez mais nenhum deles falou fora de casa.

3) Alguns objectos nunca falaram, como a escova de dentes. Concluiu que alguns objectos já tinham morrido, permanecendo apenas a sua forma física.

NOTA: O cinzeiro-suicida é muito depressivo e por vezes ficava triste por ele.

As coisas só lhe respondiam quando as utilizava. Começara a beber sempre o café da manhã na chávena-arrogante, e quando se penteava o pente-sedutor costumava dizer uma ou outra frase do estilo “Que classe, agora é que elas me caiem aos pés” ou então algo moralista “Só vivemos uma vez, mais vale arriscar um não que ficar com um talvez”. Por vezes acendia o Candeeiro-cantor durante o dia só para o ouvir cantar; enfim, as coisas já falavam tanto consigo, ou com elas próprias, que quando queria estar sozinho tinha que sair de casa.

Um dia tudo mudou. Conheceu realmente as coisas, conheceu-se a si mesmo. Após uma ida ao oftalmologista, na qual ficou a saber que estava a ver pior e que precisava de uns óculos novos, não voltou mais a casa. Passaram-se dias, talvez até semanas, e não voltou mais a casa. Encontrava-se na escuridão completa e apenas ouvia umas palavras de pessoas que não reconhecia. Enlouquecera? As coisas já não lhe falavam. Quando voltou a ver a luz do dia reparou que estava no meio de outros objectos mortos, mortos e pútridos. Foi aí que compreendeu:

Ele era um objecto; também ele uma coisa. Era uns óculos antigos e estragados. Era: Relembrou. Guitarra-fatal, Caneta-invejosa, Flor-poeta, Faca-delicada, Porta-janela, Cinzeiro-suicida.

Talvez todas as coisas tivessem também uma consciência da sua existência; talvez elas dessem pela sua falta. Talvez fosse mesmo conhecido como o Óculos-Pessoa, o objecto que julgava ser um homem. Não voltou a pensar.









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Texto ainda por rever e com final provisório. Não fiquei muito satisfeito e vou tentar ainda reescrevê-lo; mas como não deve variar muito do que aqui está, cá fica. (Queria que o título fosse "O velho e as coisas" mas seria rip-off de o "Velho e o mar" do Hemingway por isso ficou apenas "As coisas")

7.12.09

Sugestões natalícias

Coisas a fazer este natal:


- Fazer as próprias prendas.
- Comer até rebentar.
- Aproveitar para conhecer uma rapariga bonita, não há altura do ano mais romântica.
- Ver os filmes antigos que estás a adiar há demasiado tempo (godard says yes!).
- Ler.
- Passear pela baixa de Lisboa.
- Ser inacreditavelmente simpático para com os familiares por quem nutres menos carinho.
- Comprar um pinheiro verdadeiro para fazer a árvore de natal.
- Dormir pelo menos dez horas por noite.
- Comprar aqueles calendários com chocolates e não comer tudo de uma vez.
- Fazer um petisco qualquer para os pobres animais que tens em casa e que já não podem ver a ração à frente.
- Juntar a família toda a ver o INLAND EMPIRE na véspera de natal. (esta é facultativa)

Coisas a não fazer este natal:


- Comprar presentes parvos que as pessoas já receberam cem mil vezes e que vão fingir uma vez mais que gostaram muito.
- Ficar deprimido por teres comido até rebentar.
- Ser uma pessoa impecável no natal mas um idiota durante todo o ano, como se o facto de ser boa pessoa durante 10 dias compensasse os outros 355 em que não o foste.
- Gastar muito dinheiro.
- Ter inveja do teu primo de seis anos que recebeu mais prendas que tu.
- Dizer ao teu primo de seis anos que o pai natal não existe só porque ele recebeu mais prendas que tu.
- Passar dias a fio no centro comercial.
- Passar os dias seguintes a dizer mal da música de natal em repeat no centro comercial.
- Abrir as prendas antes da meia-noite.
- Dizer frases como “O natal é todos os dias!”

24.11.09

And what are you reading?

Na minha terceira noite em Florença fui até um café perto de minha casa, a esplanada estava praticamente vazia. Ao sentar-me reparo numa rapariga muito bonita que lia um livro sobre a cidade. Parece francesa, pensei. Algum tempo depois uma senhora desata aos gritos na rua; sem deixar fugir o pretexto perguntei:

- Hey, do you know what she’s saying?
- Hmm i think she’s crazy
- I think so too.

Voltei ao meu capucino. Passados cinco minutos viro-me novamente para a sua mesa:

- And what are you reading?

E a conversa continuou; continuou. Nessa noite andámos pela cidade a tirar fotografias e, durante esse ano, a tal rapariga que parecia Francesa mas afinal era Alemã, tornou-se a pessoa mais importante do meu erasmus. Apesar de não vivermos no mesmo país é com ela com quem mantenho mais contacto; é das poucas pessoas que me são verdadeiramente próximas.

Hoje, dois anos mais tarde, ocorreu-me: A frase “What are you reading?” fez toda a diferença; uma conversa de café mudou aquele ano e tudo o que veio depois. Florença mudou a minha vida. Uma ida ao café mudou a minha vida. Uma senhora louca que gritava na rua mudou a minha vida. Uma frase mudou a minha vida. O acaso mudou a minha vida.


Quantos acasos assim passarão todos os dias por mim despercebidos?

18.11.09

Acendera o cigarro. De forma elegante os dedos aproximavam-se dos lábios que faziam lembrar um beijo. Assim fumava. A postura teatral era também ela genuína e sorria; sorria distante por conveniência nos silêncios sobre a mesa.

Mudara muito nos últimos anos e ele sabia-o. Quando a conhecera, há coisa de dois meses, o olhar denunciara-a. Encontrara nas artes um conforto e um descanso que apaziguavam a solidão; aquela que lentamente a consumia. Quanto cativantes: o fascínio a paixão, o horizonte tão irrealista, inalcançável.

O cinema era a representação máxima dessa mesma personalidade. Deixava-se dissolver nas histórias ficcionais e nos diálogos perfeitos e nos diálogos imaginados e num mundo inexistente em que tudo - de uma forma ou de outra - encaixava. No entanto, quando em contraste, a vida parecia-lhe demasiado cinzenta. Já não se dissolvia. Histórias, diálogos, cansativos, superficiais: um mundo em que tudo, de uma forma ou de outra, separava.

Os cabelos demoravam-se-lhe sobre os ombros e com ela o mar estava perto mas não se ouvia.

Quoteversation [Britney & Shakespeare]

Shakespeare: Assume a virtue, if you have it not.

Britney Spears: I did not have implants! I just had a growth spurt...

Shakespeare: Our bodies are our gardens to which our wills are gardeners.

Britney Spears: I'm attracted to guys who are really confident and make conversation…

Shakespeare: The trust I have is in mine innocence, and therefore am I bold and resolute.

Britney Spears: I don't like defining myself. I just am.

Shakespeare: Lord, what fools these mortals be!

Britney Spears: The music business has let me touch a lot of people with my talent!

Shakespeare: Give thy thoughts no tongue.

13.11.09

Quoteversation [Gandhi & Nietzsche]

Gandhi: Action expresses priorities

Nietzsche: Character is determined more by the lack of certain experiences than by those one has had.

Gandhi: A man is but the product of his thoughts. What he thinks, he becomes.

Nietzsche: Man is the cruelest animal

Gandhi: Even if you are a minority of one, the truth is the truth.

Nietzsche: All credibility, all good conscience, all evidence of truth come only from the senses.

Gandhi: I believe in the fundamental truth of all great religions of the world.

Nietzsche: I would believe only in a God that knows how to Dance.

Gandhi: If I had no sense of humor, I would long ago have committed suicide.

Nietzsche: In heaven, all the interesting people are missing.

Gandhi: My life is my message.

Nietzsche: Regarding life, the wisest men of all ages have judged alike: it is worthless.

Tom Waits - Make It Rain

Postzinho

Vendo bem as coisas, nós temos algumas características que são exclusivamente Lusitanas, que são só nossas. E não, não vos vou falar da saudade, do fado, dos pastéis de Belém ou do carinho imenso que o Saramago nutre pela Bíblia (leia-se, pela medíocre arte da auto-publicitação). Hoje, amiguinhos, vamos debater a exagerada propensão ao uso de diminutivozinhos, diminutivozitos e diminutivozecos.

Eu próprio, Nuninho de bom-nome, já inconscientemente transformo toda e qualquer palavra numa coisa fofinha! Ora reparem, basta chegar ao café que somos imediatamente metralhados com um emaranhado de “inhos”, "itos" e "ecos".

- Está bomzinho? Que vai tomar? Cafezinho? E o trabalhinho? Está com ar cansadito… coitadinho! Leve as coisas com calminha! Ali o meu joãozinho, pobrezinho, desde pequenito que se queixa de ser gordinho, sempre suadinho… que amorzinho!

Fiz agora uma pausa para vomitar. Mas se pensarem bem na coisinha, este hábitozito vincadinho de colocar um sufixozinho em tudinho que mexe, apesar de ser um bocadinho irritantezinho, já se tornou um elementozinho comum na nossa linguazinha; unha com carne.

Aparentemente, com uma tendência tão acentuada para diminuir, demonstrar afecto e suavizar cada palavra, é de espantar que acabemos, na realidade, por ser o completo oposto. Sisudos, fechados e inacessíveis.

Desculpem. Sisudinhos, fechaditos e inacessíveizecos.


(Maior atentado contra a Língua Portuguesa que este post, só mesmo o novo acordo ortográfico).

27.9.09

Um ano a apagar cabeças!

Para comemorar o centenário do meu blog vou disponibilizar o filme onde este pedaço de papel electrónico se inspirou:

Podem fazer o download ilegal clicando -> AQUI <-


26.9.09

They fuck you up


They fuck you up, your mom and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.

But they were fucked up in their turn
By fools in old-style hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another's throats.

Man hands on misery to man.
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don't have any kids yourself.


Let This Be Verse - Philip Larkin

22.9.09

Short stories - O carro

Hoje, no príncipe real, quatro executivos com o seu fato a brilhar conversavam animadamente enquanto caminhavam no passeio. Em sentido oposto passava um carro com três pessoas lá dentro. Um miúdo, sentado na parte de trás, abre a janela e grita: - NÃO VÁS TRABALHAR!

Esse miúdo era eu.

21.9.09

Capacidade interrogativa

Estás a chegar a casa? Porquê? Já foste a faculdade? Vais amanhã? Porque não foste hoje? Já almoçaste? Que vais almoçar? Tens dinheiro? Quanto dinheiro? Vais ao senhor dos pregos? Vais agora? Que vais fazer a tarde? Vais dormir? Vais sair? Ficas aí hoje?


É inacreditável a quantidade de perguntas que uma mãe consegue fazer em trinta segundos. Quase que se equipara à quantidade de chineses com máquina fotográfica ao pescoço, que existe em Florença por metro quadrado.

16.9.09

Dan Witz



1979. Depois da morte do "subway graffiti", o objectivo da arte de rua era fazer o maior possível, o maior número de vezes possível, no local mais difícil possível (tantos possíveis, parece impossível). No meio de tudo isto, Dan Witz apareceu. Pintou cerca de quarenta minúsculos rouxinóis por Manhattan, com acrílicos e pequenos pincéis. Cada um demorava pelo menos duas horas a fazer.

It seems difficult to believe now but when cops or supers caught me I never got in trouble. In fact, usually when they saw I was painting a hummingbird they'd let me finish. - D.W.



15.9.09

Waking Life




Man on the Train: Hey, are you a dreamer?

Wiley: Yeah.

Man on the Train: I haven't seen too many around lately. Things have been tough lately for dreamers. They say dreaming is dead, no one does it anymore. It's not dead it's just that it's been forgotten, removed from our language. Nobody teaches it so nobody knows it exists. The dreamer is banished to obscurity. Well, I'm trying to change all that, and I hope you are too. By dreaming, every day. Dreaming with our hands and dreaming with our minds. Our planet is facing the greatest problems it's ever faced, ever. So whatever you do, don't be bored, this is absolutely the most exciting time we could have possibly hoped to be alive. And things are just starting

14.9.09

Relativity

Put your hand on a hot stove for a minute, and it seems like an hour. Sit with a pretty girl for an hour, and it seems like a minute. That's relativity.

- Albert Einstein

13.9.09

Short stories - O comboio

Cheguei ao cais do sodré e o comboio faz aquele "piii" de quem vai partir. Peço a um rapaz para me segurar na porta, vou a correr comprar o bilhete e entro. A carruagem estava cheia de velhotes estrangeiros mas havia quatro lugares vagos. Mal me sento a rapariga à minha frente diz: - "é melhor não te sentares aí".

Nisto caiem dois enormes pingos de agua, vindos do tecto que pingava incessantemente, em cheio na minha testa. Todos os velhotes que enchiam a carruagem desatam a rir aos altos berros, como quem estava à espera que aquilo acontecesse há vários minutos. Levantei-me com um sorriso trapalhão e fui-me sentar na carruagem seguinte.

12.9.09

E não estamos sozinhos

Ensopados no tédio mas florescemos nos detalhes. Apaixonados pelas curvas, pelos sorrisos, olhares e jeitos. Insatisfeitos, intransigentes. Movidos pela certeza e esperança de uma vida melhor, de um propósito. Rebeldes, destrutivos. Vivemos de noite. Sarcásticos, críticos, inertes. Punks e anarquistas de óculos e roupas escolhidas a dedo. Pensativos, imaturos, crianças que nunca conseguiram deixar de o ser. Criativos, divertidos, orgulhosos. Tudo bons rapazes.

Temos vinte e dois anos. Vislumbramos mais a teoria do que a acção e não nos perdoamos por isso. Vivemos com o pé a fundo no acelerador, sempre com a sensação de que ainda não saímos do mesmo sítio. Somos jovens e estúpidos. Julgamos ter o mundo a nossos pés. Ingénuos, redundantes. Não temos fé nos desistentes, quem ficou para trás, ficou. Não nos conseguiram acompanhar. Somos baratos, selectivos. Demasiado mimados por pais que gostam demasiado dos seus filhos.

Somos a alternativa, a nata. Somos a inconsciência de uma responsabilidade que continuamente adiamos. Somos o fascínio pela arte, pela música, por quem imitamos. Somos os ingredientes certos de um prato que não sabemos cozinhar, a promessa de algo mais. Somos ridículos. Ridículos porque pensamos assim, ridículos porque escrevemos estes textos. Somos ridículos porque vamos para a praia fumar e tentar descobrir um sentido, uma razão. Somos ridículos e rimo-nos de nos próprios. Mas somos nós; e não estamos sozinhos.

9.9.09

That is no country for old men. The young
In one another's arms, birds in the trees
- Those dying generations - at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl, commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unageing intellect.

An aged man is but a paltry thing,
A tattered coat upon a stick, unless
Soul clap its hands and sing, and louder sing
For every tatter in its mortal dress,
Nor is there singing school but studying
Monuments of its own magnificence;
And therefore I have sailed the seas and come
To the holy city of Byzantium.

O sages standing in God's holy fire
As in the gold mosaic of a wall,
Come from the holy fire, perne in a gyre,
And be the singing-masters of my soul.
Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is; and gather me
Into the artifice of eternity.

Once out of nature I shall never take
My bodily form from any natural thing,
But such a form as Grecian goldsmiths make
Of hammered gold and gold enamelling
To keep a drowsy Emperor awake;
Or set upon a golden bough to sing
To lords and ladies of Byzantium
Of what is past, or passing, or to come.

w.b.yeats - sailing to byzantium

30.8.09

Stalin, o génio dos ignorantes.



- "Stalin era um génio!"

Ouvi dizer esta frase há uns dias com uma convicção inigualável; com uma certeza inatingível. Na União Soviética entre 1921 e 1953, cerca de 15 milhões de pessoas desapareceram ou morreram de fome. Stalin e as suas politicas agrícolas, já para não falar dos agradáveis Gulags, foram sem sombra de duvida frutos de rasgos de brilhantismo.

Mas ele não estava sozinho! Hitler foi outro génio da sua época, com a sua grande e inesquecível obra, o holocausto.

Gostava de ter percebido onde estava o génio de Stalin, ou até mesmo o de Vasili Blokhin. Ou Malcolm X, Unabomber, Jean Kambanda. Mas acho que vai ter de ficar para outro dia.

9.8.09

The xx - crystalised

The xx. remember the name, i have a feeling you might be hearing from them in a near future ; p

15.7.09

A economia amorosa


Img. 1



Dizem que estamos em crise, mas será que a crise afecta também as nossas relações?

Ora vejamos, se fizermos uma análise comparativa, verificamos que o PIB (ou será melhor dizer PNB?) das relações também se desenvolve por ciclos. Por miúdos, a produtividade masculina e feminina, no que toca a amores e desamores, tem altos e baixos.

Numa altura de recessão, ou seja em que a produtividade do engate tem um crescimento negativo, verificamos que a oferta é substancialmente maior que a procura. Se os rapazes estão bastante abertos a investir no mercado, já as raparigas vão adiando as suas decisões.

Mas deixemos-nos de macroeconomia. Se estudarmos a curva da procura, podemos fazer a analogia Preço - Custo do engate. Ilustrando a comparação; quanto maior for o custo do engate, e por sua vez, o esforço necessário para o conseguir, menor vai ser a quantidade de indivíduos dispostos a pagar esse preço. Por sua vez, quanto mais barato e fácil for o engate, maior vai ser a quantidade de indivíduos interessados. Esta relação é dotada de uma elasticidade quase perfeita.



Img. 2 - Curva da Procura



Para não ajudar à festa, o mercado em causa está longe de se enquadrar no modelo de concorrência perfeita (devido em parte ao claro monopólio de alguns indivíduos...), e não possui qualquer tipo de produtos substitutos.




Img. 3 - Exemplo de monopólio.



A utilidade marginal (neste caso o prazer retirado da ultima experiência consecutiva) diminui a passos largos. Após a primeira noite, o valor da segunda decresce de tal maneira que esta pode nem chegar a existir na maior parte dos casos.

Contas feitas, é fácil perceber que a crise está aí meus amigos, e é necessário intervir. Não podemos arriscar uma deflação em tempos tão frutíferos como o verão. Vamos investir no consumo, nivelar a oferta ao nível da procura e trabalhar para chegar ao ponto de equilíbrio benéfico para todos... e para todas.


8.7.09

A Title

"Quando éramos jovens, achávamos que as nossas vidas iriam ser muito mais interessantes do que realmente são hoje."

O meu pai disse esta frase num qualquer jantar já aqui há uns tempos. Desde essa noite que esta frase não me saiu mais da cabeça.

3.7.09

Magda



Chama-se Magdalena Chojnacka, nasceu na Polónia mas veio de Berlim e de Detroit. Ontem, deixou-nos a dançar até de manhã.

1.7.09

Take what you have gathered from coincidence



You must leave now, take what you need, you think will last.
But whatever you wish to keep, you better grab it fast.
Yonder stands your orphan with his gun,
Crying like a fire in the sun.
Look out the saints are comin' through
And it's all over now, Baby Blue.

The highway is for gamblers, better use your sense.
Take what you have gathered from coincidence.
The empty-handed painter from your streets
Is drawing crazy patterns on your sheets.
This sky, too, is folding under you
And it's all over now, Baby Blue.

All your seasick sailors, they are rowing home.
All your reindeer armies, are all going home.
The lover who just walked out your door
Has taken all his blankets from the floor.
The carpet, too, is moving under you
And it's all over now, Baby Blue.

Leave your stepping stones behind, something calls for you.
Forget the dead you've left, they will not follow you.
The vagabond who's rapping at your door
Is standing in the clothes that you once wore.
Strike another match, go start anew
And it's all over now, Baby Blue.

27.6.09

Pressão





Quando apenas funcionas bem sobre pressão tens um problema grave quando apenas funcionas bem sobre pressão tens o meu problema quando apenas funcionas bem sobre pressão e isso afecta as tuas relações o teu trabalho o teu empenho a tua disposição a tua rotina o teu sono e a tua vida tens um problema porque quando a pressão não existe ficas normalmente, desmotivado.

Quando apenas funcionas bem sobre pressão é sinal que já lhe tomaste o gosto e torna-se quase tão difícil viver sem ela como ler este texto sem pontuação absolutamente nenhuma e conseguir perceber que esta frase já não faz parte da próxima pressão é no fundo essencial é o estimulo que te carbura é a força motriz que te conduz

O problema é que, quando a pressão desaparece, tudo o que é simples torna-se complicado.

Apesar de as coisas serem mais equilibradas, organizadas e ponderadas; sem pressão, tudo se torna entediante, adiável e previsível.

14.6.09


Before the world was made





If I make the lashes dark
And the eyes more bright
And the lips more scarlet,
Or ask if all be right
From mirror after mirror,
No vanity's displayed:
I'm looking for the face I had
Before the world was made.

What if I look upon a man
As though on my beloved,
And my blood be cold the while
And my heart unmoved?
Why should he think me cruel
Or that he is betrayed?
I'd have him love the thing that was
Before the world was made.



photo(josef koudelka)
poem(y.b.yeats)

13.6.09

Nietzsche matinal

Acendeu outro cigarro que fumou com desprezo e sem prazer. Não tinha dormido. O ar fresco da manha entrava timidamente pela janela. Repudiava-o. Ouvia repetidamente uma musica deprimente cuja letra nunca conseguira entender. Provavelmente, nem quem a escreveu percebe. Mas quando és artista, qualquer merda sem sentido torna-se profunda; pensou.

A sua melancolia forçada enterrava-o cada vez mais contra a almofada. A falta de postura fascinava-o. Um verdadeiro niilista de ocasião. E se Deus tinha mesmo morrido, Ele jazia agora ali; a fumar entediadamente a seu lado.

Há varias horas que devia estar a dormir. Sabia que os compromissos do dia seguinte não iam esperar por ele. Que se foda. Grunhiu ao mesmo tempo que sorria em tom provocante. Que se fodam os horários, os pequenos-almoços, que se fodam as expectativas e os resultados, que se fodam os hipócritas, os cultos, os reservados ou os activos, os saudáveis e as rotinas. Que te fodas tu que estás a ler este texto e a pensar que não devia ter usado esta palavra. Que se foda.

Riu mais uma vez e acendeu outro cigarro. Sentiu-se ensonado mas não podia dormir. Não agora.

24.3.09

short stories - O Café

Acordei e, como bom comodista que sou, fui tomar o pequeno-almoço à rua. Cheguei a um café na rua da madalena, onde vou sempre, e pedi um pão de leite com fiambre e uma meia de leite. O café é muito pequeno; tão pequeno o é, que não existem lugares para uma pessoa se sentar, apenas se pode comer ao balcão.

Eu era o único cliente naquele momento e estava, calmamente, a beber a meia de leite. Nisto, as duas empregadas encontravam-se encostadas à parede com um ar de poucos amigos. Comecei a sentir-me desconfortável e fingi-me interessado no que se passava lá para fora. Nisto elas abraçam-se. Eu olho com alguma estranheza e, já idealizando uma cena lésbica extremamente sexy durante o meu pequeno-almoço das 11, as pobres senhoras irrompem num choro compulsivo.

Absolutamente vindo do nada, as duas senhoras desataram a chorar. Eu, atónito, pousei a chávena (ainda a meio) e saí discretamente do café.

9.2.09

Ignorance


Strange to know nothing, never to be sure
Of what is true or right or real,
But forced to qualify or so I feel,
Or Well, it does seem so:
Someone must know.

Strange to be ignorant of the way things work:
Their skill at finding what they need,
Their sense of shape, and punctual spread of seed,
And willingness to change;
Yes, it is strange,

Even to wear such knowledge - for our flesh
Surrounds us with its own decisions -
And yet spend all our life on imprecisions,
That when we start to die
Have no idea why.

- Philip Larkin

7.2.09

14 de Fevereiro

Eu adoro o dia dos namorados. Deliro com os peluches com corações a dizer "I Love You", os chocolates também em forma de coração, enfim... todas aquelas prendinhas bonitinhas e super originais. Tudo é tão vermelho e enjoativo que a cada 14 de Fevereiro eu acredito que até o pobre do São Valentim dá voltas na campa.

Os casais de mão dada a passear aos milhares, apinhados e esmagados nos restaurantes, nos cinemas, nos miradouros. Não há dia em que o amor seja mais industrializado. Tudo é uniforme, igual e ornamentado de um tédio muito, muito monocromático. É incrível como existe um dia dos namorados. Mas mais incrível ainda, é o facto de existir tanta gente que celebra este dia tão idiota.

O dia de são valentim (porca miseria! que piroso! quase que me custa escrever estas palavras no meu querido blog (não, custa mesmo! (e como é fixe fazer parêntesis dentro de parêntesis (já nem sei o que estava a dizer antes)))) está mesmo ao nível dos casais que celebram um mês de namoro. E dois meses. E três meses e meio! Jesus! Mas porque não celebramos antes um mês e 18 dias? Não tinha muito mais piada? Porque é que celebramos quando é estabelecido e não quando nos apetece?

Se repararem bem, quase que temos um calendário da relação. Se eu tiver com uma grand'azia no dia em que fizer um ano com a minha mais que tudo (MAE DE DEUS VOU APAGAR ISTO!), estou basicamente na merda. Vou ter que ir dar beijinhos para um sitio certamente especial (atenção que hoje estou-me mesmo a esmerar), quando o que realmente me apetecia era estar em casa a beber cházinho e a ver um filme dos anos 60 (possivelmente um 8½ ou mesmo o 2001).

Por isso pá eu não consigo perceber estas tendências. A nossa necessidade de catalogar, encaixotar, agendar e programar a coisa que devia ser, pelo contrário, a mais espontânea e original nas nossas vidas. L'amour. Mas isto sou eu a falar. Que nunca devo ter tido um relacionamento normal em toda a minha vida. Eu no fundo invejo todos aqueles casais pacatos e tradicionais, que provavelmente são bem mais felizes que eu.

Por isso força nisso namoradinhos de Portugal! Enfrasquem-se em chocolates, rosas e peluches, marquem o restaurante mais chique e, já agora, ajudem lá este país a sair da crise. Sem duvida alguma que depois depois deste dia único e especial, a vossa relação nunca mais vai ser a mesma!

5.2.09

American Graffiti



Bob Falfa: Hey, hey, hey, baby. What do you say?
Laurie Henderson: Don't say anything and we'll get along just fine.

Desenhos e preconceitos


Ontem fui até aos armazéns do chiado para desenhar um bocado. Sentei-me e continuei o meu desenho. Passado um bocado (estava eu desligado do mundo graças aos meus ricos fones) reparo que estava uma pessoa mesmo ao meu lado, de pé a olhar para as minhas pinturas. Era um rapaz preto e alto, com roupas sujas e largas, e de capucho na cabeça. De imediato penso para mim; pronto, lá vem este gajo chatear-me. Tiro os fones do ouvido e viro-me para ele.

- “Posso ver?”
- “Podes.”
- “Gosto da tua cena”
- “Ah.. é um bocado estranho mas é a falta de jeito…”
- “Ah népia man. Tem personalidade. Nunca tenhas vergonha da tua própria arte. Queres ver a minha arte?”

Nisto ele tira o capucho e reparo que tem um olho completamente fechado e inchado, e um dente a menos. Ele pergunta se dá para se sentar e eu digo que sim, sem dar muita confiança e mantendo o meu cepticismo. De seguida pede-me umas moedas e eu dou-lhe um euro. Já estava à espera, pensei eu. Questionei-me ainda se ele me iria tentar roubar alguma coisa. Ele agradece e deixa o euro em cima da mesa. Achei estranho mas continuei a desenhar.

Pouco depois (e para minha surpresa) o rapaz pergunta se pode, também ele, fazer um desenho. Eu dou-lhe uma folha branca e um lápis.

Ficámos os dois ali vinte minutos a desenhar em silêncio. Ele acaba, assina e escreve qualquer coisa (que não consegui perceber), dá-me o desenho e diz:

“Toma. É para ti. Gostas?”

Tinha feito um graffiti em que se conseguia ler Tang (de Wu Tang Clan) pintado a preto e com contornos vermelhos.

Eu sorri e disse que gostava. Ele levanta-se, pega no euro e pergunta, “Posso?”. Acenei que sim com a cabeça e, antes de se ir embora, o intrigante rapaz diz: “Agora sim, acho que posso levar o teu euro. Obrigado.”

E foi-se embora.

Eu continuei a desenhar. Pouco depois parei e pus-me a pensar. Mas que atitude. O gajo que estava num estado lastimável, pede-me umas moedas e em vez de se ir embora, como seria normal, sentou-se a fazer um desenho para me oferecer. E eu não consegui ser minimamente simpático ou receptível.

Senti-me um atrasado mental. Que merda de preconceitos são estes? Em que julgamos de tal maneira as pessoas pela sua aparência que não lhes damos a mínima chance à partida? Nem a chance da dúvida? Ele teve uma atitude humilde e mostrou dignidade, e no entanto, eu não descansei até que ele se tivesse ido embora. Saí revoltado dos armazéns. Guardei o desenho dele no quarto e pensei que, se o visse outra vez, convidá-lo-ia para se sentar a desenhar mais um bocado.

31.1.09

Blu

extraordinary: ex·traor·di·nar·y
adj.

1. Beyond what is ordinary or usual
2. Highly exceptional; remarkable: an extraordinary achievement.
3. Employed or used for a special service, function, or occasion:


A dor é passageira mas a glória é eterna



Vomitar é saudável. Vomitar é saudável, especialmente depois de misturares vodka com cerveja e vinho tinto. Se bebeste mais de oito penalties, vomitar é saudável e pode até ser considerado, agradável. Vomitar é de facto uma experiência libertadora, quando tens sete amigos à tua volta aos pulos e aos gritos de alegria por seres o primeiro a abrir as hostilidades. Vomitar pode até ser o teu momento alto da noite; quando te levantas da mesa e dizes: - “Pessoal, chegou a hora”. Pegas no tacho cheio de sangria e vodka, levas o bicho à boca e, sem o mínimo de hesitação, mandas aquilo pela goela a baixo.

Quando libertas todo o teu jantar, metade do lanche e quando chegas ainda a sentir o perfume do almoço (aquele empadão que arrotaste durante três horas em casa da avó), tudo aponta para que o teu momento tenha ficado escrito na história, e muito possivelmente, no chão da casa de banho quando falhavas na sanita. A glória é tua. Os teus amigos saltam eufóricos por te ver triunfar. Com muita calma, sentas-te na mesa. Sorris e viras-te para quem está à tua direita. Docilmente pedes,

- “Enche-me aí o copo se faz favor.”